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Quando entrar Setembro

Nestes cinco meses de caminhada, o planeta Terra está diferente. O mundo vive o “novo.” É o cenário de uma pandemia. Misturado ao desconhecido, em diferentes países, cidadãos buscam se adaptarem à nova forma de viver, sinalizando que a integração virtual é o que move o mundo.

No Brasil, as águas de Março já prenunciavam que toda atenção à nossa volta seria necessária e, que a hierarquia das nossas prioridades seria totalmente mudada, pois o “novo ameaçador” chegava ao solo e ao cotidiano brasileiro. O país tropical teria que cancelar as festas, o futebol e a alegria dos encontros e, então, um “estranhamento” dominaria as nossas horas. Todo comércio não essencial seria fechado, além de escolas, universidades, cinemas e museus. As aglomerações estavam proibidas, O alerta das autoridades de saúde era sobre a facilidade de contaminação do desconhecido. Então, tudo ficou cinzento e triste. A partir daí, as pessoas não se reconheciam mais nas cidades quase fantasmas, faltava a alegria das crianças na escolas, nas praças e nos parques. Os avós estavam trancados dentro de casa. A saudade começava morar ao lado.

O mês de Abril chegou mostrando a dimensão do perigo, agravando os nossos medos e nossas incertezas diante do socorro médico, do trabalho e dos riscos de contaminação. A comunidade científica reforça a necessidade do distanciamento social, a máscara passa a ser um acessório obrigatório para sair de casa. Lavar as mãos com água e sabão ou usar o álcool em gel, passam a fazer parte da nossa rotina. Mas, o uso de máscaras mexe com a vaidade, ainda que sejam elas fundamentais a nossa proteção, é difícil usar, respirar e acostumar. Neste contexto, e, em meio a muitas informações, a população vive indecisa e as recomendações médicas para conter a disseminação do “novo”, são desrespeitadas e, assim, a morte bate à porta, principalmente dos mais pobres.

No frio de Maio, a pandemia expõe nossa insignificância e vulnerabilidade, isto de forma muito dolorosa e a ciência confirma o poder de letalidade do “novo”. Em meio ao caos, surge o reconhecendo que mudanças serão necessárias para a sobrevivência do homem no planeta, principalmente a sua relação com a natureza, pois será preciso uma reinterpretação dos espaços urbanos, criando novos caminhos para as cidades, com desenvolvimento, verdadeiramente, sustentável. Que o verbo “higienizar” será o nosso companheiro constante. Que o toque entre as pessoas será menos ou quase nada. Que o “olhar” será a força consoladora do abraço não dado e do sorriso escondido. Por isso, Maio nos levou a uma reflexão: neste momento de crise, é necessário uma conexão com Algo Maior do que somos, nos inspirando ao crescimento e ao exercício da humildade. É o que chamamos de “espiritualidade”. A humildade para ressignificar valores e conceitos, trabalhando a aceitação de que somos diferentes na essência. Lembrando o que disse o filósofo Merleau Ponty, “a verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”. Então, precisamos de mais filosofia, é chegada a hora de transformar as velhas formas de viver, de se reinventar, buscando vivenciar e ampliar a compreensão, a generosidade e a empatia.

Os meses de junho e julho, “ficar em casa” ainda são palavras de ordem. São meses desconcertantes e desafiadores para o cidadão brasileiro. Dentro da pluralidades do mundo moderno, o ser humano, de repente, se viu tão singular, sem sua tribo diária, tendo que ser só. Por isso, os impactos do confinamento e da comunicação só virtual, tem sido cruciais para a saúde mental das pessoas. Isto porque o virtual não substitui plenamente o contato pessoal. Diante das carências inusitadas, as crises de ansiedade tiveram um aumento significativo durante esta pandemia. Além disso, o “novo” escancarou a precariedade da saúde pública no Brasil, levando pânicos as familiares dos doentes, que esperavam por uma vaga nas UTI lotadas. Este pavor se estende também a quem precisava trabalhar e, que, no transitar diário, se exponha à contaminação. Nestes meses, certificamos ainda que podemos viver com muito menos, pois acumulamos coisas que não usamos. Que não ceder ao consumismo exacerbado, melhora a nossa energia, nos tornando mais leves e solidários, pois aprendemos que doar e compartilhar são atos enriquecedores para se viver com mais qualidade.

Neste panorama, o vento forte de agosto chegou com um sopro diferente, pois o mundo está diferente. Mas, eu quero acreditar que este vento seja abençoado e que sopre, trazendo um novo ciclo, com transformações globais e locais. Que este vento, anuncie uma nova energia do homem para com o Cosmos e, que o místico nos traga a esperança de dias melhores. Que a nossa fé possa curar e sarar as nossas dores. Que o otimismo domine os nossos dias. Que o caos nos mostre ensinamentos preciosos para a nossa estadia aqui na Terra. Que a arte seja nossa fonte inspiradora, transformadora e libertadora, pois ela baila sobre diferentes questões ideológicas e estéticas, trazendo também aprofundamentos sobre todos os conflitos humanos. Que nestes momentos de grandes tensões, a arte seja o “presente” das nossas vidas. Sem dúvida, ela acrescenta luz e cor aos nossos dias. Além disso, a arte propõe e desempenha tarefas reflexivas, criando o “belo” que emociona e instiga para que tenhamos novos olhares sobre tudo. É por vezes, transgressora e crítica, além de educar e humanizar.

Assim, quando setembro chegar, eu quero que o vento da primavera seja curativo e com flores multicoloridas. Que a música possa nos acalentar e nos alegrar. Enfim, e que a arte seja acessível a todos, fazendo a diferença boa na nossa vida, agora e sempre.

 

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