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Isso é Felicidade

“Eu não tenho tempo algum, porque ser feliz me consome.”

No mundo mediado pelo tempo virtual, é a agenda on-line que marca uma nova maneira de se vivenciar as emoções e valores, pois estamos diante de um sujeito que expressa os seus sentimentos e sua visão de mundo através das redes sociais. Um sujeito que direciona o seu olhar quase que o tempo todo para a tela do computador e a tecla do celular, porque o importante é manter um perfil virtual e alimentá-lo em série; ter um momento de fama, escancarando a intimidade, falando o que sente e o que não sente. É o tempo marcado pela excessiva informação virtual e, é nesse tempo que se vivi, se ama, se agride, se mata e se tenta resolver muitas questões, desconstruindo a subjetividade.

O sociólogo polonês, Zygmunt Bauman afirma que as sociedades contemporâneas não estão preocupadas com as relações duradouras  e, que o ser humano não está interessado nos vínculos duradouros, pois o que prevalece são as novidades constantes em um cotidiano apressado e que resulta em um emaranhado de encontros e desencontros, de chegadas e partidas, de medo e solidão. Segundo Bauman, boa parte das neuroses do homem contemporâneo nascem da fragilidade dos laços afetivos e que o amor está cada vez mais superficial, escorrendo pelos vãos dos dedos, mesmo que estejamos tão “necessitados.”

Necessitados um do outro, necessitados de carícia, de cheiro, de conversa ao pé do ouvido, de abraço apertado, necessitados, enfim, que acessamos mais o coração da nossa verdade pessoal, nessa aventura humana chamada vida. E  viver é um desafio constante.

Dessa forma, viver certas atividades podem ser insignificantes, sem graça e retrô aos olhos de muitos, pois não condiz com o “jeito moderno de ser.”  Entretanto, a epígrafe acima, é provocadora e nos convida a buscar e a vivenciar as várias possibilidades de ser feliz. Assim, um passeio, um lugar, a de arte de Frida Kahlo, a poesia de Mário Quintana, a voz de Stivie Wonder, um por do sol, a chuva no telhado, a brisa do mar, podem nos deixar feliz. Mas, sem dúvida, é no encontro com as pessoas que está a maior felicidade. “Todos nós buscamos o aconchego das pessoas. Não há felicidade sem o calor da lenha,” escreveu o poeta.

Esta metáfora ilustra a afirmação de que o objetivo da vida humana é a felicidade. E a felicidade pode estar também na concretude de pequenos gestos, reinventados pela arte da construção afetiva e do conhecimento que aproxima e favorece os vínculos enriquecedores e prazerosos do encontro com o outro.

Padre Fábio de Melo afirma que a experiência humana se desenrola na trama dos encontros e, que, devido a conscientização da nossa fragilidade, nos tornamos ainda mais necessitados uns dos outros. E, assim, quando emprestamos nossa energia ao outro, recebemos de volta a energia do cosmo. Se se na vida estamos sempre buscando o aconchego das pessoas, daí a necessidade de reinventar os sentimentos e celebrar com leveza os encontros em nossas andanças pelo mundo. Certificar que o amor é material e gestual: a mão que segura a outra no momento da alegria e da dor, da palavra que acolhe no momento de aflição e solidão, mas também dos corpos que se encontram para vivenciar a alegria e a diversão.

Assim, mesmo com toda rapidez do tempo, da nossa falta de tempo e da nossa pressa para resolver tudo, é necessário vislumbrar o singular, o peculiar e a sutileza. E foi num intervalo, que de repente, me permiti um passeio. Sim, um passeio daqueles que a gente fazia na infância e que era tão divertido e significativo para o nosso conhecimento. Sim, um passeio dentro de um encontro ou passeio mais um encontro. Um encontro de extrema felicidade. Felicidade que nasce da conversa, do riso, da música,  do encontro com a arte artesanal e da fruta que se torna arte nos diversos sabores.  “É a felicidade deixando de ser utopia porque entrelaçou a inteligência e o afeto do Outro.”

Um passeio e uma cidade barroca, secular. Uma cidade e uma feira de artesanato. Um passeio e o encontro de amigas. Amigas de infância, de estudo, de festas, de profissão e fé.

Uma Feira de Artesanato e o Festival de Jabuticaba, somando arte sacra e arte culinária, me fizeram descobrir que a felicidade anda embrulhada de diversos modos. Na procura pela peça mais bonita e do licor convencendo pelo sabor. No vai e vem de pessoas, que utilizam também a feira para passear, conversar, andar de braços dados, enfim, a felicidade que transcende do belo e da simplicidade. A arte do artesão, mostrada na beleza de uma obra gestada no interior da alma e concretizada pelas mãos. A arte poética e mistica que nos faz esquecer, ainda que temporário, o momento tão precário que vivemos. É poder da arte que humaniza e resgata a vida do caos.

A cidade e suas jabuticabas. Jabuticabas da qual se reproduz tantas delícias: geleias, licores, cachaça, pimenta, bombons, sorvetes … tudo confeccionado com qualidade, criatividade e amor. Jabuticaba que gera renda para o artesão e que dá visibilidade a cidade, divulgando-a Brasil afora.

Lembrando mais uma vez Fábio de Melo, quando ele diz que o amor é o maior de todos os artesãos,  pensei no artista de olhar sensível, que sente mais profundamente as dores do mundo e a sua própria dor, mas que transforma tudo em arte, que é fruto do seu amor.

O certo é que uma cidade, um passeio pode nos fazer feliz. Uma cidade de caminhos apertados, mas que respira história, tradição, que mantém seus costumes e crenças. Cidade onde se pode sentar em um banco da praça e se alimentar de uma boa prosa.

É certo ainda que a experiência humana vivenciada na simplicidade e na vagareza, é desafiadora e nos faz refletir: estamos todos inter-conectados, não existe mais distâncias. A vida deixou de ser artesanal. E, sem dúvida, tudo ficou mais fácil de ser resolvido; devemos utilizar a tecnologia a nosso favor. Mas, o imediatismo, a produção em série, coloca em xeque-mate a mistica da amizade.  Amizade que nos conforta e que nos ajuda a enfrentar os nossos medos. A amizade que nos instiga a buscar o encontro com a felicidade e a fazer fotografias mais verdadeiras.

Enfim, vale dizer que a felicidade é ação. É de ação que precisamos: trabalhar, doar, passear e aspirar. Aspirar escolhas e conquistas.

Em Sabará, a mesa foi posta: nos reaproximou, encurtou as distâncias e possibilitou indagações, inquietações e olhares novos. Por isso, provocará saudade. O passeio, o encontro foi em Sabará, mas poderia ser em outra cidade qualquer, pois nas casas do mundo há sempre varandas e cadeiras para quem ousa sentar. É só aceitar o desafio e entrar!

Este artigo eu dedico a todas as pessoas que foram a excursão em Sabará, no dia 3 de dezembro de 2016.

 

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