Interessante como são as coisas. Dois grandes amigos da minha infância e adolescência me contataram no intuito de que eu, pelo fato de já trabalhar com música há muitos anos em Minas, pudesse levar um pouco desse assunto a você leitor. O engraçado é que, apesar de querer muito discorrer sobre isso, confesso que no momento não consigo, talvez por haver coisas mais interessantes a serem abordadas.

Dias atrás estava me recordando de uma canção do gênio da composição nacional e um dos meus ídolos, Humberto Gessinger que dizia o seguinte: "nas grandes cidades, no pequeno dia a dia, o medo nos leva a tudo, sobretudo a fantasia, então erguemos muros que nos dão a garantia de que morreremos cheios de uma vida tão vazia....", uma canção chamada 'Muros e Grades', a qual recomendo a todos ouvirem. O fato é que, ao lembrar dessa canção, pensei no município onde cresci e vivi a minha infância e adolescência; feliz infância e adolescência, diga-se de passagem.

Eu, motociclista apaixonado, visitante das cidades da belíssima Minas Gerais e desse país maravilhoso, ambos não tão adorados pelos seus filhos, que deveriam ser a representação máxima e absurda do patriotismo e que infelizmente: não são. Como não somos diferentes, nós, cidadãos nevenses não adoramos o nosso município, não nos importamos e via de regra, criticamos a esmo, sem nenhum interesse em realmente buscar solução para os problemas que sabemos que existem e que não são resolvidos por um simples fator: não nos importamos.

Lembro-me sempre de uma cidade pela sua entrada. Já estive em várias pelo país, dentre elas, algumas que me fascinaram foram: Três Corações (MG), Poços de Caldas (MG), Ipatinga (MG), Rio das Ostras (RJ) e Balneário Camburiú (SC). Se a primeira impressão é a que fica, responda-me: qual seria a primeira impressão que uma pessoa que vem a Ribeirão das Neves tem? Já que ao entrar na cidade, logo na divisa percebemos uma mudança drástica na qualidade do asfalto, onde a vida dentro de um carro passa a parecer um carnaval de rua. São tantas ondulações e imperfeições que a sensação é similar a um bom Rally.

Além disso, o próximo cartão postal é um Deposito de Lixo a céu aberto, onde vemos a beleza das aves negras a voarem em círculos, como um espetáculo digno do Discovery Channel. Do outro lado, uma entrada pela 0-40 que não oferece nenhum atrativo visual, além das ruas novamente danificadas. Eu me pergunto qual seria o porquê das pessoas que aqui vivem não gostarem daqui, e também não buscarem nenhuma solução ou mesmo uma proposta visando qualquer melhoria.

Por fim, deve-se perguntar o porque da citação da música Muros e Grades? Simples. No fim ela vem com uma frase maravilhosa que diz: "viver assim é um absurdo, como outro qualquer, como tentar o suicídio, ou amar uma mulher" e eu poderia complementar, que um absurdo também é viver, em um lugar onde pouco acontece, por diversos motivos, dentre eles, o maior talvez, seja a apatia que temos, por permanecer querendo viver entre "muros e grades" de silêncio, apatia e impotência, que para piorar, não são impostos, e sim, são optados.