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Antônio Carlos Benvindo

Segundo dados estatísticos revelados pela ONU ( Organização das Nações Unidas) no dia 19 de Março de 2010, Belo Horizonte é a 11ª capital mais desigual do mundo, o ranking de distribuição de renda da cidade dos alpes, divide o posto com Fortaleza e com a colombiana Bogotá, ainda aparecem neste ranking Goiânia na 10ª posição e Brasília na 12ª como as mais desiguais do mundo, atrás apenas de capitais africanas.

Para o leitor entender o levantamento foi feito a partir do coeficiente Gini, uma medida usada para compreender a situação das cidades no que diz respeito à distribuição de renda ou consumo. Os dados utilizados para chegar ao coeficiente, segundo a ONU, são coletados principalmente de pesquisas e censos. O indicador varia de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade entre o que as pessoas ganham. Quando o coeficiente da cidade está no nível zero, todos consomem de forma igual. BH no relatório da ONU apresenta um índice de desigualdade equivalente a 0,61 um nível altíssimo, tendo em vista que a ONU considera aceitáveis 0,4.

A desigualdade tem haver com a discrepância entre classes sociais, ou seja, o abismo entre pobres e ricos, ou de forma mais coloquial: poucas pessoas com muito dinheiro e muitas pessoas com poucas condições financeiras.

Em minha opinião BH realmente é uma cidade desigual, haja vista bairros como Vila da Serra, Belvedere e em outro lado da serra do curral o Aglomerado da Serra, Barragem Santa Lúcia, Morro das Pedras, entre outros. Outro fator que podemos sentir são as oportunidades de emprego que são reduzidas, mesmo com qualificação a cidade não oferece boas opções de trabalho e muitas vezes o trabalhador até paga para trabalhar.

O que espanta é o fato da cidade estar "tão bem" colocada neste ranking de péssima reputação, ficando a frente de cidades como: São Paulo e Rio de Janeiro que aparentam ser bem mais desiguais.

Belo Horizonte foi a primeira capital planejada do país, criada dentro dos limites da Avenida Contorno, mas a explosão demográfica ocorrida com a criação de uma cidade próspera e oportunidade de uma vida melhor trouxeram imigrantes do campo e do nordeste para a capital, como não havia espaço dentro destes limites do centro, as famílias tiveram que se deslocar para os "morros" criando assim as primeiras "comunidades". Este é apenas um fator que possa contribuir com a desigualdade.

Não é segredo que Minas Gerais é rico em minério, além de ser uma grande potência no que tange a economia, o que falta é uma distribuição de renda mais igualitária, dando recursos a classe mais baixa de comprar e em contra partida a própria economia local cresce. Esta desigualdade reflete nos números de criminalidade, um local sem oportunidades de emprego suficiente e rendas baixas fornece argumentos para as pessoas encontrarem um modo de vida fácil para conseguir mudar a condição social.

O que me chamou atenção também foi que a imprensa não deu a repercussão suficiente para estes dados, foram pequenas reportagens apenas citando a pesquisa, tanto no rádio e na TV, talvez este fosse um assunto interessante ou não para um ano eleitoral?

A Prefeitura de Belo Horizonte não quis falar sobre o assunto, alegando não conhecer os métodos de análise da ONU, mas para ter consciência de que a cidade é desigual é necessário apenas conhecer cada canto deste território cercado pelas serras e um horizonte ofuscado por casas de alvenarias mal acabados, enquanto outro horizonte por mausoléus faraônicos.

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Brasil, final da década de 80, início de 90, o momento histórico era turbulento: fim do Regime Militar, Diretas Já, morte de Tancredo Neves, Era Sarney, Era Collor, inflação galopante, impeachment, assassinato de PC Farias, enfim o país estava na berlinda.

Enquanto eu morava num barraco, pagando aluguel e brincando nas ruas de terra Nevense, um som, que não era automotivo, me chamava atenção na casa do vizinho. Advindo da periferia de São Paulo, mais especificamente do Capão Redondo, surgia um grupo contundente em suas palavras e representava a voz rouca da periferia. Misturando influências como Public Enemy e 2Pac, o grupo de rap Racionais MC’s, comandado por Mano Brown dava um tapa na face da sociedade enfatizando os problemas sociais do negro pobre da favela.

Não que o Rock dos anos 80 num desempenhasse este papel, mas sua grande parte ou talvez sua totalidade eram descendentes da classe média e revoltados com a situação do país, no qual suas letras tinham conotação metafórica, o que dificultava o entendimento do morador da periferia, em sua maioria semi analfabeto. As letras diretas do novo grupo refletia o pensamento de um pobre morador de favela, vítima de um sistema social falho e opressivo.

As primeiras letras foram com murros no rosto da sociedade, tão acostumada ao Regime Militar e aos versos de Chico Buarque e Caetano Veloso.


“Equilibrado num barranco incômodo, mal
acabado e sujo, porém, seu único lar,
seu bem e seu refúgio.Um cheiro horrível
de esgoto no quintal, por cima ou por
baixo, se chover será fatal. Um pedaço
do inferno, aqui é onde eu estou. Até o
IBGE passou aqui e nunca mais voltou.
Numerou os barracos, fez uma pá de
perguntas. Logo depois esqueceram...”

(Homem na estrada, Álbum Raio-X Brasil )


A Rádio Favela foi a grande percussora deste movimento ascendente, conseguiu seu ápice tocando em suas ondas sonoras as músicas dos Racionais MC’s. Após lançar o Álbum Raio-X Brasil, o grupo não poderia ser mais como um simples movimento, mas um movimento avassalador, de onde surgiram as camisas 100% Periferia, Negro Tipo A, entre outros.

Surgiram outros MC’s como MV Bill, Rappin Hood, Shawlin e até o rapper português Valete, seguia a linha dos “manos” de São Paulo. O Racionais adotava a linha aversão à mídia, em 1997 o grupo lançou o CD de maior sucesso do Rap Nacional “Sobrevivendo no Inferno”. A partir daí, desceram do morro e foram parar nos sons automotivos da classe média. Músicas como Capítulo 4, Versículo 3, To ouvindo alguém me chamar, Diário de um detento, foram parar na mídia convencional. Meio a contra-gosto, lhes deram prêmios, dinheiro e fama, o que nenhum fã como o que vos escreve queria. Por acreditar que tudo que transforma ou modifica a mídia convencional também é vítima dela, foram perseguidos pela Globo, Record, dentre outras.

Fiquei com medo.
“Nada como um dia após o outro”, álbum de 2001, surpreendeu até o mais cético dos fãs. Foi a consolidação do maior movimento afro-diásporico da atualidade. Quem ouve Negro Drama, Vida Loka, a quase oração Jesus Chorou, entre outros, sente a essência da exaltação do negro e pobre da periferia, e a quase semelhança da letra com nossas vidas.


“...ei bacana, quem te fez tão bom
assim, o que se deu, o que se faz, o que
se fez por mim, eu recebi seu tic, quer
dizer kit, de esgoto a céu aberto, e
parede madeirite, de vergonha eu não
morri, to firmão, eis me aqui, voce não,
se não passa, quando o mar vermelho
abrir...”

(Trecho da música Negro Drama – Álbum Nada como um dia após o outro)

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