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O preço para estar secretário

A grande maioria dos secretários de prefeituras espalhados por este Brasil afora vivem uma situação paradoxal: embora sintam orgulho de terem atingido o posto máximo na hierarquia, depois do chefe do executivo, a grande maioria experimenta enorme frustração pelo adiamento, por tempo indeterminado, de projetos e sonhos pessoais. Distanciados de si e premidos por um script "politicamente correto?", esses cidadãos sofrem com os sentimentos subjacentes à dissonância que existe entre o discurso proferido e a prática possível. Pior: alguns vivem também sob o signo do medo.

O medo de serem excluídos, destituídos da posição que ocupam, e perderem o poder e a visibilidade que adquiriram, funciona como fator de pressão e opressão para que se mantenham reféns da situação e evitam, a qualquer preço, manifestarem oposição. - "Às vezes temos que ir contra o que consideramos adequado para não gerarmos conflitos, mais pressões políticas ou perdermos a posição", como já cansei de presenciar e ouvir.

Embora eu não esteja embasado em pesquisas e/ou entrevistas com pessoas do meio, mas através de convivência com estes, cheguei a algumas considerações interessantes. Uma delas é que o sofrimento manifestado por muitos secretários das prefeituras de maior porte e importância política (ai eu incluo Ribeirão das Neves) origina pelo desconhecimento de si próprios, o que agrava pelo fato de alguns deles desconhecerem esta situação e, em razão disso, não lidam com questões críticas do tipo: Quem sou eu? No que me tornei e para onde vou? Como me sustentar nesta posição? Como me prepara para futuros projetos? Como resgatar os projetos pessoais? Como cuidar da saúde e evitar que os prejuízos que causei a ele agravem? Como enfrentar a vulnerabilidade que acabo de descobrir em mim e na vida que construí? Como aprimorar meu relacionamento interpessoal e minha comunicação com meus superiores imediatos, com os pares e com os colaboradores?

De qualquer forma, conhecedores que somos agora do contexto em que vive e do sentimento que isso provoca, (sem esquecer que trata apenas de uma leitura que faço) parece que a contribuição possível para seu desenvolvimento esta associado a criar condições para que eles possam responder a estas questões. Outro sentimento abertamente expresso e revelado pelas atitudes da maioria dos que estão secretários é quando o medo e a insegurança interferem na dificuldade de tratar da própria sucessão. Sabe-se que o preparo do sucessor é um dado que caracteriza a maturidade pessoal e profissional do indivíduo.

A grande maioria fica efetivamente preocupados com isso, ou realizando este preparo. "Preparar sucessor? Não há tempo para isso. Além do mais, nós secretários precisamos é tratar de manter nossa posição pelo maior tempo possível, e isso se faz cuidando da interação com os chefes do executivo, e não preparando sucessor". Também já ouvi.

Insegurança é um fator que vem interferindo na qualidade de vida dos detentores destes cargos. Sentem-se reféns em seus carros, casa, escritórios. Precisam estar sempre alertas e desconfiar de tudo e todos, pois a qualquer momento poderão ser alvo de algum ataque. Esta questão revela a insegurança em que vivem, favorecendo relacionamentos superficiais, formais e distantes, quando não interesseiros, promovendo aumento da ansiedade e tensão.

Esses profissionais parecem cada vez mais solitários e isolados, embora sempre rodeados. Estão sempre defensivos, carecem de autonomia e liberdade para serem o que realmente são. Para o sucesso alcançado tiveram e têm de pagar um alto preço. Querem manter a posição ora ocupada, mas sabem que podem perdê-la a qualquer momento e temem pelo que poderá vir depois. "Secretários tem a morte anunciada, sabe que vai morrer que o preço é alto e a pressão intensa. Em alguns casos, mesmo antes de começar, já sabe quando e como vai morrer, resta então definir quanto irá receber por isso".

Este sentimento dificulta o relacionamento do secretário dentro da instituição para baixo e para cima. A interface com a cúpula administrativa, ou com o gabinete do(a) prefeito(a) como queiram, constitui uma fonte de estresse. Buscando não se comprometer e evitar ser destituído do cargo, o secretário vai ao gabinete, mais para dar satisfação do que para compartilhar ideias, problemas e pedir ajudas.

Embora a maioria dos secretários compartilhe a missão de suas pastas, e discutam suas ideias com seus superiores, existe uma relevante dissonância entre os desejos e as decisões do board e o que é possível realizar, indicando que a mesma instancia que pactua a missão, solicita práticas incompatíveis com as diretrizes apontadas.

Nota-se também que a maioria se sente orgulhoso de terem atingido a posição de "primeiro homem da confiança do gabinete". Entretanto, não visualizam como poderão dar seguimento à sua carreira, a partir daí. Parece que chegara ao fim da linha e alguns se manifestam cansados, entediados, até injustiçados com esta situação. Sucesso, poder e status estão entre as razões que apontam como fatores determinantes para estes cidadãos perseguirem a posição de primeiro mandatário da pasta. Mesmo se mostrando orgulhosos por terem atingidos a posição, há uma clara manifestação que o preço a ser pago para atingir este "sucesso" é muito alto. Ressaltando o sedentarismo no topo da lista das consequências mais nefasta para a vida pessoal. Depois nota-se o adiamento de projetos particulares, as dificuldades de reaver o relacionamento familiar quase sempre abalado, com o também comprometimento com a saúde, que culmina com distúrbio do sono e instabilidade emocional.

Nas prefeituras, a política é percebida como tendência inevitável em favor do político, em detrimento aos interesses sociais. Com isso os profissionais detentores destes cargos, acabam levando os negócios para dentro de sua casa, o que interfere nas rotinas familiares.

Como já dito antes, as decisões nem sempre são as que os secretários entendem como certas, mas que melhor atendam aos interesses políticos, (sempre maquiadas como de interesse social). "Se você funcionar para mim, eu te darei a compensação. Senão, Adeus"!

É esse o preço que se paga.

 

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